José Sarney – Ex-Presidente da República
O Romantismo foi um movimento que surgiu na Alemanha no século XIX e influenciou todas as esferas das artes e da cultura, transformando-se até em um estilo de vida. Chegou a outros países da Europa e fez nascer em seu bojo grandes nomes. Quem não se recorda de Lorde Byron e Shelley, na Inglaterra? Madame de Stäel, na França, sistematizou esse novo credo, e o difundiu para novas terras. Madame de Stäel que suscitou suspiros do grande pianista polonês Frederico Chopin. De Portugal chegou ao Brasil.
Na música, nas artes plásticas, na arquitetura, na literatura, o Romantismo exerceu sua influência. Criou até um estilo de vida, nos homens, nas cidades. Passou a ser quase um estado de espírito.
O credo romântico presta culto aos “suspiros e saudades”, à idealização do Amor (com maiúscula), a um certo tipo de sofrimento compadecido. Ele chega a ser uma visão de mundo, um sistema de valores, uma ideologia. O grande expoente da poesia romântica é Lamartine, depois surgiram outros, exprimindo-se em diferentes idiomas.
No Brasil, o primeiro romântico foi Gonçalves de Magalhães, que publicou uma obra, em 1830, como sugestivo título de Suspiros poéticos e saudades, e, numa incursão exótica, acompanhou o Duque de Caxias, sendo o cronista da Balaiada.
Mais do que escola ou corrente artística, o Romantismo é um modo de ser e de exprimir-se, chega a ser uma ideologia.
Houve reflexos do Romantismo na política. Nos anos 60, os movimentos de retorno à natureza, o culto ao natural, a busca de viver-se em pequenas comunidades longe dos grandes centros urbanos, as “aventuras” de um Che Guevara, que apregoava a revolução sem perder jamais a ternura, – todas essas manifestações têm um certo sabor romântico.
O último século, no final, seguiu a rota da máquina e da tecnologia de ponta, das redes de computador, da robótica, da telemática. E isso provocou transformações nas próprias relações humanas. Chega-se a namorar através de computador, e o homem, interligado em redes eletrônicas, vive sua nova solidão.
Mas, apesar das previsões de O admirável mundo novo e de outros profetas da modernidade, o homem continua o mesmo em suas aspirações essenciais. Ele ainda valoriza o lado romântico nas relações, e vive uma nova utopia, acreditando ainda que “o sonho não acabou”. O ano de 1984 passou e as profecias de Orwell não aconteceram.
Depois do auge da onda romântica do século XIX, viveu-se a visão de um mundo que abandonava esses valores e caminhava rumo à máquina para abandonar a Terra e ser passageiro de naves espaciais em busca de novos mundos. Júlio Verne dominou essas visões. Chaplin, nos Tempos modernos, sintetizou essa predominância da máquina sobre os homens, mas ele mesmo era o mendigo a entregar aquela flor que é mais do que uma flor, em Luzes da ribalta.
Sonhou-se até na morte de Deus, no homem-senhor dominando todos os saberes.
Hoje, o conhecimento é a chave da qualidade de vida. Os robôs, Internet, CD-Rom, High Tec, tudo conspira para que o homem se distancie do romantismo e caminhe para o realismo frio e amorfo da eletrônica. Paradoxalmente – e para manter o homem como criatura de Deus – tudo isso, no fim do último século, não matou nem Deus, nem o Diabo nem o beijo.
Os prazeres continuam sendo os mesmos e há como uma sensação de colocar os velhos valores e de resistir ao fim daquilo que Bergson chamava o “sentimento da alma”.
Voltam os anjos, há atualmente uma literatura e arte sobre os anjos, sobre a magia, sobre os exorcismos, sobre a presença de novo do Diabo, como na Idade Média, seduzindo a Terra, os súcubos e íncubos, fêmeas e machos, pervertendo os homens.
Nas suas angústias e inquietações, no fim do milênio passado, nem o romantismo nem Deus estão mortos. E os ideais de paz e desarmamento no mundo, de término de conflitos, da primazia das soluções negociadas persistem apesar de tudo. O homem volta-se para a ecologia, consciente de que a preservação do meio-ambiente é essencial para sua própria sobrevivência.
Mergulhando no Cosmo, o homem aprofunda seus conhecimentos sobre a origem do Universo, como quem busca o próprio Deus. Em vez da Guerra nas Estrelas, estamos vendo a paz nas estrelas. Será um outro século romântico o XXI? Sim, o romantismo não morre, ele vive na vida.