A Secretaria de Estado da Justiça e Segurança Pública (Sejusp) confirmou no final da manhã desta quarta-feira, 21, que o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa surgida em São Paulo (SP), e que domina a maioria dos presídios pelo país, instalou uma célula criminosa no Amapá. A informação foi revelada durante entrevista coletiva na Delegacia Geral de Polícia Civil (DGPC).
De acordo com o delegado Celso Pacheco – que coordenou nessa terça-feira, 20, a mega operação de repressão ao crime organizado na capital – o líder local da facção criminosa, ou “Geral do Estado”, como é conhecido dentro da hierarquia quem comanda o PCC nos estados, é o traficante Jeferson ‘Alê’.
As investigações iniciaram há oito meses, e foram realizadas pelo delegado Paulo Renner, da Delegacia Especializada em Crimes Contra o Patrimônio (DECCP), com apoio de uma força tarefa de delegados.
“Em 2014 houve um ‘boom’ do número de assaltos em Macapá. Isso não foi uma coincidência. Foram as ações comandadas de dentro da penitenciária do Estado que provocaram esse aumento assustador de ocorrências. A informação que temos é que o PCC implantou sua célula, no Amapá, em 2012,mas as ações orquestradas iniciaram já no final de 2013 para 2014, o que comprova a presença da organização em nível regional. Porém, estamos montando uma ofensiva que inicia com o cumprimento de 48 mandados de prisão, a identificação dos líderes e outras ações sigilosas que ainda ocorrerão. Sabemos que esse tipo de reação provoca repressão dos criminosos, mas estamos preparados para qualquer tentativa de revide”, assegurou em tom afirmativo o secretário de Justiça do Amapá, coronel PM Gastão Calandrini, ex comandante da Polícia Militar do Estado.
Líderes serão transferidos para penitenciárias federais
O delegado Celso Pacheco, coordenador geral da operação de combate ao crime organizado no Amapá, afirmou durante entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira, 21, que os principais líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital), que dominam o Instituto de Administração Penitenciária do Amapá (Iapen) já foram identificados.
“Já temos a identificação dos principais líderes dessa facção que atuam em nível local. Já pedimos a transferência de quatro deles para presídios federais de segurança máxima. Existe uma hierarquia e até estatuto que é seguido à risca pelos integrantes dessa facção. De dentro da cadeia eles comandavam assaltos, tráfico de drogas e até mesmo assassinatos. É uma rede que tenta se fixar aqui, mas que vamos combater veementemente para impedir”, asseverou o delegado Celso, que está à frente das investigações através da Delegacia Especializada em Crimes Contra o Patrimônio (DECCP).
O delegado citou como exemplo de atuação do PCC no Amapá, o caso envolvendo o empresário Satoro Kubota, 42 anos, que teve a casa invadida no início do mês de dezembro no bairro Goiabal. A vítima foi torturada e ameaçada de morte por quase cinco horas.
Cinco homens participaram do assalto. Eles fugiram para o bairro Congós, zona Sul de Macapá, onde foram cercados pelo Bope. A quadrilha estava fortemente armada. Houve troca de tiros com os policiais e os cinco suspeitos acabaram mortos na ação.
“Descobrimos que as armas usadas nesse caso eram do PCC. A facção patrocina assaltos e aluga armas. Diferente de outras regiões onde o tráfico de drogas é o que fomenta as células, aqui são os assaltos que bancam os criminosos. Se observar, os crimes ocorridos nos dois últimos anos envolvem somas vultosas. Outro exemplo é o assalto aos Correios de Ferreira Gomes, o assalto ao Bradesco de Porto Grande, dentre outras grandes ações”, recordou.
Juízes e policiais estavam marcados para morrer
As investigações da Polícia Civil revelam, ainda, esquema para matar policiais e até juízes. “Conseguimos apurar que uma juíza da Vara de Execuções Penais (VEP), estava na lista de alvos do PCC no Amapá, além de policiais e outras pessoas da sociedade. É importante frisar que existe uma rede de comunicação entre os presídios, e que o traficante Alê, que comanda a facção em nível local, mantinha até mesmo teleconferências com líderes de outros oito estados. Assim, eles se organizam para realizar ações simultâneas”, afirma Pacheco.
A hierarquia do PCC funciona com um ‘Geral do Estado’, que é o líder maior; Geral do Progresso, responsável pela parte financeira da facção; Geral da Rua, que seleciona os ‘soldados’ que executam os crimes, e que são responsáveis por espalhar a filosofia da facção; o Sintonia das Gravatas, que cuida da parte burocrática do grupo, ou seja, é o responsável pelo contato com os advogados em caso de prisões e outras situações correlatas, e o Sintonia Feminina, que é a líder da facção na penitenciária feminina, identifica nas investigações como Rosemary Pérola.
A facção ainda cuida das famílias dos ‘apadrinhados’. Em caso de prisão ou até mesmo morte, o PCC disponibiliza recursos para manter a alimentação, remédios e até aluguel dos familiares desses criminosos que saíram das trincheiras por questões alheias às suas vontades.
A polícia espera identificar outras pessoas a partir da apreensão de documentos e anotações obtidos dentro do Iapen durante a operação deflagrada na terça-feira, 20. As investigações contam com a quebra de sigilo telefônico e bancário dos suspeitos.