José Sarney – Ex-Presidente do Brasil –
O tema do tempo sempre fascina a mente humana. Primeiro que o tempo não existe: é uma criação do homem. O tempo é um pedacinho da eternidade. Mas lembro-me de duas sínteses literárias de que eu gosto muito, quando se trata do tempo. Uma é do T. S. Eliot, o grande poeta inglês, que abre um poema sobre o tempo com estes lapidares versos: “O tempo presente e o tempo passado / Estão ambos talvez presentes no tempo futuro / E o tempo futuro contido no tempo passado. (“And time future contained in time past.”)
Tenho, ao longo da vida, escrito muito sobre o tempo em crônicas, meditações e vivências. E vejo, com alegria, que um artigo meu renova essa discussão e traz o Padre Vieira para o centro dela.
Que bom que o Amapá não esqueça Vieira. Mas acusar-me de passadista é uma deslavada ofensa, uma vez que ninguém mais do que eu procura estar com os olhos voltados para a frente, tentando desnudar o futuro.
Assim, o período que exerci a presidência foi o último tempo em que o Brasil preocupou-se com os avanços da modernidade: fizemos o laboratório de construção e teste de satélites; nossa comunidade científica dominou o desenvolvimento da fibra ótica; construímos o síncroton para estudar a estrutura da matéria, aquilo que tanto preocupa o homem, até hoje em busca da Partícula de Deus; fizemos um avanço extraordinário em algo com que o mundo até hoje tem preocupações, como o caso do Iran — a descoberta do enriquecimento do urânio na fábrica de Aramar, abrindo as portas para o aproveitamento da energia nuclear para fins pacíficos; e os materiais dos semicondutores. Até hoje a comunidade científica me homenageia por esse feito e tem saudades do passado, ainda sem motivos para ter, como Vieira, saudades do futuro.
No Maranhão, trouxe o primeiro computador que entrou no Nordeste, um Burroughs de pesquisa, para substituir as máquinas; instalamos a primeira tevê didática, hoje educacional, do Brasil; e mandei os Professores Lobato e Anselmo ao Japão para serem capacitados para as novas tecnologias do ensino.
No Senado, modernizei toda a máquina administrativa, informatizando-a, e fiz parte da comissão que criou o Prodasen, o grande banco de dados que temos no País.
Fui o primeiro — e único — Presidente a visitar o acelerador de partículas do Fermilab. Tenho verdadeira fascinação pela física pura e pelas descobertas de partículas.
Mas a acusação que me fizeram de passadista nada mais era do que protesto contra a crítica que fiz ao stalindino, que, num estado agrícola como o Maranhão, desconhece a função social da propriedade e coloca-se contra ela, perseguindo comerciantes, industriais, fazendeiros e produtores rurais, determinando que esses não tenham a proteção do direito de imissão em suas terras, proibindo a Polícia de garanti-los — segundo me dizem, há mais de dez mil mandados que foram proibidos de serem cumpridos.
Tudo isso, no final, implica na destruição de empregos, quando o Estado apresenta uma alta estatística de perdas de postos de trabalho.
Nada tão decadente quanto o stalindinismo, que completa, neste ano, 100 anos, tendo sido responsável por um grande atraso da humanidade e por vinte milhões de mortos, além de ser pregador da volta ao terror da Revolução Francesa, a guilhotina da Praça da Concórdia, em Paris.
Para terminar, numa homenagem ao tempo, cito Platão. Para mim, na melhor definição (em Timeo) sobre ele: “O tempo é a imagem em movimento da eternidade.”